segunda-feira, 9 de abril de 2012

Bom dia, errantes e sobreviventes! Ontem o pessoal do Zumbiverso Nerd publicou a segunda parte do primeiro capítulo da história zumbi que estou escrevendo. Nossa amiga Lucy acaba de ver os pais sendo atacados por zumbis e não pode fazer nada, já que está trancada em seu quarto, no prédio aonde mora. Agora ela precisa dar um jeito de sair de lá e pensar no que fazer. Acompanhem!


Parte 2

Lucy gritou e gesticulou, mas não houve tempo. Quando perceberam, os zumbis já cercavam a família e o irmão de Lucy investiu contra o primeiro. Desesperada, Lucy assistia a luta vã de pai e filho, que tentavam proteger o corpo já inerte da mãe, estendido ao lado do carro. Não foi menos assustada que a garota ouviu os latidos de Tampo, que conseguira se soltar da coleira para defender a família em apuros. O vira-latas não teve tempo sequer de morder a perna do errante mais próximo aos donos. Foi atacado por três zumbis que não se importavam com os ganidos do animal. Lucy tinha o rosto machucado pelas unhas que, tamanho nervosismo, cravou enquanto chorava e gritava pela família. Quando percebeu que o pai e o irmão, assim como o cachorro e a mãe, não teriam salvação, a garota se encolheu no canto do aposento, com as mãos tapando os ouvidos com muita força. Ainda assim, podia ouvir os gemidos dos zumbis que destroçavam sua família, os gritos do pai e do irmão, que aos poucos iam se calando, mas chegavam abafados aos ouvidos da garota. Lucy chorou e pediu a Deus para que tudo acabasse rápido. As lágrimas escorreram em seu rosto por várias horas, até que a garota caísse no sono, ali mesmo, encolhida no canto do quarto, com as mãos nos ouvidos.
Quando acordou, Lucy não tinha ideia de quanto tempo havia passado. Por um milésimo de segundo, pensou que havia tido um pesadelo, mas logo percebeu que não havia sonhado: o silêncio sepulcral da casa escura era a prova de que a família inteira jazia morta em frente ao prédio. Já era noite, e nenhum som vinha do lado de fora - nem os gemidos dos mortos-vivos, nem seu arrastar de pés. Lucy fez força para vencer o desânimo e se levantou. Apesar do breu, ainda podia distinguir os móveis do quarto, com sua cama desajeitada, as roupas espalhadas, o computador desligado, os pôsteres de artistas que gostava e a coleção de livros do Harry Potter, alinhados na prateleira. Caminhou até a porta para certificar-se de que o irmão realmente a deixara trancada. Era uma noite fria e a brisa do vento trazia um leve cheiro de podridão. Evitando olhar para fora, Lucy fechou a janela que havia lhe servido de camarote para o terrível espetáculo daquele dia. A garota caminhou até a cama e se sentou, tentando não pensar na dor opressora que sentia no peito. Fez cara de choro ao pensar na morte dos pais e do irmão, mas já não tinha lágrimas e a cabeça doeu com o esforço. Limpou o nariz ressecado na manga da blusa e esfregou os olhos castanhos, que ardiam. Passou as mãos pelos cabelos castanhos e lisos, desalinhados, levando as mechas para detrás das orelhas. Deitou-se devagar e voltou a dormir.
Lucy acordou desconfortável com o calor do dia ensolarado que entrava pelos vidros da janela. Um pouco atordoada pelo sono recém desperto, se sentou à beira da cama e percebeu que estava com a garganta seca, lábios rachados, olhos inchados e com fome. Ajeitou os cabelos, calçou o par de Converse que deixava embaixo da cama e foi novamente verificar a porta trancada. Parou por um momento, com a cabeça encostada na madeira fria, tentando pensar em uma solução. Ela precisava sair dali, ir para a cozinha, beber água, comer alguma coisa, talvez tomar um banho, e depois pensar no que fazer. Olhou em volta, por todo o quarto, procurando algo que lhe ajudasse a arrombar a fechadura. Encontrou o removedor de grampos, um objeto de metal que usava para remover os grampos dos trabalhos de escola e organizar tudo por pastas coloridas. Voltou à porta e ficou olhando para a fechadura, tentando imaginar um jeito de abri-la a força. Enfiou a ponta do removedor de grampos no buraco da chave, girou, balançou, mas tudo o que conseguiu foi barulho e uma dorzinha no pulso, que sempre lhe voltava, por conta da tendinite. Por fim, achou melhor tentar arrancar as dobradiças, desparafusando com o removedor e empurrando a folha da porta. Lucy viu que não teria como desparafusar, uma vez que a porta estava fechada e tudo o que ficava exposto das dobradiças era justamente a junção entre as peças. Com raiva, cravou o removedor entre o metal das dobradiças, como se desse uma facada. Um estalo fez com que ela voltasse a prestar atenção no trabalho. O removedor de grampos ficou preso entre as peças da dobradiça e a madeira do batente, que abriu uma pequena rachadura. Lucy olhou em volta atônita e escolheu o livro mais grosso, Harry Potter e o Cálice de Fogo, uma edição especial de capa dura que havia comprado pela internet, para usar como martelo. O removedor de grampos continuava preso ao batente e Lucy não hesitou: com um movimento rápido, bateu com o livro na ponta da ferramenta, que bambeou e se afundou um pouco mais na madeira, com outro estalido. Ela ajeitou o removedor, respirou, e repetiu o movimento. Desta vez a pancada fez com que o objeto se soltasse, mas um dos parafusos da dobradiça parecia estar completamente solto. Lucy ajeitou novamente o removedor entre a dobradiça e o batente e efetuou todo o trabalho. Quando soltou o último parafuso e viu a porta bambear, a garota olhou com tristeza para o livro em frangalhos e o jogou em cima da cama. Afastou-se um pouco e impulsionou o corpo contra a porta, que rangeu, estalou, fez um “creque” e, finalmente, caiu para frente, deixando farpas da madeira estilhaçada no batente e onde ficava a fechadura.

...

Continua

Nenhum comentário:

Postar um comentário