Dia desses comecei a escrever uma história zumbi, que foi surgindo na cabeça. Agora a coisa está tomando boas proporções. Ontem o pessoal do Zumbiverso Nerd publicou o primeiro trecho do primeiro capítulo. O leitor acompanhará a estudante Lucy, que está sozinha no meio do caos e recebe uma estranha mensagem em seu celular, de um número desconhecido, o que indica que pode haver mais sobreviventes. O primeiro trecho está disponível na sessão de Contos do dia Z: http://zumbiverso.com.br/contos-do-dia-z/
SMS
Não bastasse todos os
problemas que vinha enfrentando nos últimos dias, Lucy também tinha que
se preocupar com o calor escaldante, que lhe deixava desidratada e fazia
os odores dos mortos vivos, que perambulavam pelas ruas adjacentes,
ficarem ainda piores. A pouca sorte da garota ao escapar desarmada dos
últimos dois zumbis na saída do prédio onde morava, numa pacata vila
residencial do interior do Estado, parecia estar se esgotando.
Pela manhã, Lucy
recebera uma mensagem em seu celular. Surpresa com o fato de que os
sinais ainda fossem capazes de transmitir SMS, a garota leu a mensagem,
provavelmente enviada aleatoriamente, e teve certeza de que não era a
única sobrevivente em meio aquele caos.
Já não era capaz de
precisar a quanto tempo aquilo tudo havia começado. Os pais de Lucy
tinham sido mortos, tal qual seu irmão mais velho e o cachorro da
família, Tampo, atacado ao tentar defender os donos. Lucy assistira a
tudo da janela do terceiro andar, onde morava. Os pais voltavam da
igreja, onde o pastor estava reunindo sobreviventes desabrigados. A mãe
de Lucy sugeriu a visita à comunidade do pastor para oferecer um quarto
no amplo apartamento da família, de modo que a igreja não ficasse
sobrecarregada. Quando o pai de Lucy estacionou o carro em frente ao
prédio, de volta da missão social, duas daquelas horríveis criaturas se
levantaram para lhes atacar. Os corpos espalhados pela rua fizeram com
que Lucy e sua família achassem que estavam todos realmente mortos. Eles
não sabiam quanto tempo podia demorar para um dos atacados se
transformar, portanto não esperavam pelo ataque. Enzo, o irmão de Lucy,
também assistia a volta dos pais pela janela, e logo desceu as escadas
em disparada para ajudá-los. Antes, porém, trancou a porta por fora,
para que Lucy não se arriscasse. Desesperada, a garota bateu e gritou,
mas não conseguiu arrombar o quarto. Voltou à janela a tempo de ver o
irmão mais velho acertar um dos zumbis com o extintor de incêndio do
condomínio. A rua era estreita e não dava muito espaço para a luta, uma
vez que o Palio da família estava parcamente estacionado.
Enquanto Enzo
estraçalhava a cabeça do morto-vivo que fora ao chão, o outro zumbi
conseguiu agarrar a mãe de Lucy pelas costas. A mulher gritou de maneira
pavorosa quando a criatura cravou os dentes em sua nuca, arrancando um
grande naco de carne e nervos, fazendo com que um jorro de sangue
escorresse pelas roupas da dona de casa. O pai de Lucy conseguiu se
desvencilhar do cinto de segurança no qual estava preso, abriu a porta
do veículo com grande violência e puxou o morto-vivo pelos cabelos, para
lhe desferir um soco na sobrancelha. Ele era um homem alto e pesado,
com os braços fortes marcados pelos anos de trabalho na construção
civil, e aquele soco teria no mínimo desmaiado qualquer oponente em
condições normais. No entanto, o zumbi mal percebeu a potência do golpe;
com um leve desequilíbrio, o monstro largou o pescoço da mulher e
voltou-se para o atordoado pai de família. Antes que o pai de Lucy
tivesse qualquer reação, o zumbi lhe agarrou pelos braços e bateu as
mandíbulas ferozes com dentes podres na direção de seu rosto. A cabeça
do zumbi fez um barulho estridente quando o extintor de Enzo lhe acertou
em cheio. O golpe foi tão bem dado, que zumbi, pai e filho perderam o
equilíbrio e desabaram sobre o capô do carro, que disparou o alarme
imediatamente. Enquanto os três se engalfinhavam no chão, o alarme do
sistema antirroubo reverberou pela estreita rua e pelos becos que
cruzavam a via, naquele silencioso final de tarde. Lucy, que olhava a
tudo aflita da janela, teve um pressentimento ruim sobre o barulho. Ela
abafou um grito ao ver que diversas sombras começaram a surgir
lentamente de todos os cantos da rua, entre garagens, portões
destruídos, das portas abertas dos veículos batidos, das caçambas de
lixo, do comércio mais abaixo. Lucy tentou avisar ao pai e ao irmão, que
finalmente haviam matado o zumbi e agora verificavam a mãe, que se
contorcia agonizante.
…
CONTINUA
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